terça-feira, 27 de maio de 2014

Sobre "Suspiro"


Hoje falarei um pouco sobre parte do processo criativo que precede a poesia. O poema "Suspiro" é até agora o favorito dos leitores em geral, e por isso o escolhi para comentar com vocês. Além disso, a pessoa que inspirou esse poema faz aniversário hoje, e torna a ocasião dessas palavras ainda mais adequada.


Esta é a Audrey Ferrari, uma das pessoas mais importantes na minha vida e na minha história. Nos conhecemos em 2008 na AACD, onde ela trabalha como fisioterapeuta. E mesmo que eu frequente a instituição desde que nasci, quando comecei a fazer o tratamento com ela, foi tudo diferente. Isso porque começamos a trabalhar juntas numa época crítica da minha reabilitação, onde mal havia acabado de me recuperar de uma fratura no joelho, e deveria passar por uma cirurgia nos pés, e agora, na coluna. Tais fatores - meu crescimento, cirurgias extensas e doloridas, e por que não, a questão da fé em mim mesma dali pra frente - tornou ainda mais sensível o ponto principal da nossa convivência até hoje: a confiança.

Confiar é mais simples quando a gente é criança e não tem tanta responsabilidade. Ou quando a gente já sabe o que vai acontecer depois, ou ainda quando já conhecemos quem vai nos ajudar. E nenhuma dessas coisas se aplicava à nossa relação que acabava de começar. Semana após semana eu compreendia que deveria me entregar por inteiro. Sem amarras, sem preocupações, sem medos. Assim o fiz. E numa das experiências mais libertadoras da minha vida, quando me dei conta, aquela que havia começado comigo como fisioterapeuta já era também grande amiga, conselheira, psicóloga, irmã mais velha, e todas as variantes possíveis para esse tipo de amizade que é insubstituível, e inexplicável. Assim sendo, a necessidade crescente de tê-la por perto dispensa comentários. 
No entanto, nem tudo são flores e quase nada é como a gente quer, realmente. Todo período de pré cirúrgico na AACD requer uma pausa na reabilitação. E essa pausa forçada, a qual tive que enfrentar duas vezes só com a Audrey, foi sempre torturante.  O famoso clichê dos que se amam: "perder para dar valor" nunca fez tanto sentido. E se sua presença era bálsamo, a sua ausência era impensável.

E embora muitos poetas acreditem que a saudade seja a poesia em silêncio, ou, como diria Vinícius: "todo grande amor só é bem grande se for triste", eu jamais me atreveria a usar palavras de tristeza para me referir a alguém que só me faz bem. Guardei a saudade em mim tanto quanto possível, e quando não era, vertia lágrimas. Eu sabia que a ausência nunca produz nada grande além dela mesma, e portanto, não consegui enxergar nada de poético no sofrimento que outros tantos escritores embelezam e veneram, como se fosse fundamento da poesia. 

Foi depois, sem pretensão, que achei num dia de sol a fagulha, a epifania em palavras para dizer da sua importância. Era uma quarta feira de manhã, e eu fui à AACD para passar em consulta, e encontrei com a Audrey chegando para o trabalho. Obviamente, nos abraçamos. Quisera eu que aquele abraço pudesse ser interminável. E de certa forma, foi. Percebi, durante a volta pra casa, o aroma do creme hidratante que ela usa, impregnado em mim. E foi o suficiente para despertar meus sentidos físicos, intelectuais, e emocionais, também. Tive certeza: era a hora de fazer a poesia. Suspirei de novo, como que para lembrar a sensação do reencontro, o que havia mudado, e a marca que havia deixado. E então surgiu "Suspiro" .

O melhor cheiro 
é o da saudade que se materializa em presença
Que é refrescante como água 
e mesmo assim ganha a fixação de um abraço.
Laço que, longe de ser só enfeite
é deleite... 
Começa com inspiração, aumenta a percepção, e passa pela absorção.
E quando finalmente contagia e ganha profundidade,
já não é mais saudade, mas o cheiro da felicidade

Que toma conta de nós.

... Com esse poema eu soube que o abraço certo pode ser o melhor dos perfumes. Que não há nada mais apropriado pra poesia que o amor. Que a tristeza incomoda, mas a alegria sempre restaura. E que todo o ser humano deve ter um laço como esse. 

Audrey, minha flor, que todos os nossos abraços - passados e futuros - sejam eternizados através desses versos, e que muita gente ainda se emocione com esse significado poético que brota de ti. Parabéns, e obrigada por ser minha inspiração, além de todo o restante. 

Um beijo gente! Até a próxima ;)




sexta-feira, 16 de maio de 2014

Sobre o "primogênito"!

Queridos amigos,

Desde o lançamento do Essência, que ensaio vir aqui registrar e compartilhar algumas das tantas emoções que tenho sentido. Bem, se não é fácil escolher, muito menos traduzir.

Mas sinto que, antes mesmo de começar a compartilhar o que ficou pronto, é preciso voltar e dividir a emoção do processo, para que  toda a alegria que se desdobra desse projeto seja colocada por inteiro, para todos. E assim o farei: hoje, tenho a alegria de vos apresentar a mente genial que é responsável pelas ilustrações do Essência. 

Marcel Sugai, 22, é paulista e atualmente reside na Inglaterra, estudando arquitetura em Princeton. Antes de se aventurar lá longe em função do ensino superior, o ilustrador e querido amigo estudou na mesma classe que eu durante todo o ensino médio. Sempre muito criativo e inquieto, esbanjava exímia habilidade nos mais diversos tipos de arte, desde origamis até pinturas com tinta à óleo, na qual o artista possui formação.
Como se não bastasse, sua versatilidade possibilita ainda criações musicais: Marcel também é DJ, e define a música como sua segunda linguagem. Para quem quiser conhecer mais dessa sua vertente, eis o link: http://www.reverbnation.com/mjs
Por aqui, ficamos com a faceta do artista-ilustrador:


O que você sentiu ao ter contato com as poesias do essência pela primeira vez?
Marcel Sugai: Na primeira vez, eu tinha lápis e um papel em mãos e esperava que a autora recitasse um poema de sua escolha. A ideia era esboçar aquilo que me viesse à cabeça. Nada feito; quando Mary começou a ler, só consegui ser levado por suas palavras. No final, senti profunda admiração e até um alívio de saber que eu me conectava tão bem com a poesia do Essência.

Acredita que a poesia oferece maior ou menor liberdade de interpretação em imagens do que uma narrativa em prosa?
MS: Eu acredito que a subjetividade da poesia nos oferece um leque de possibilidades de interpretação em imagens maior do que uma narrativa em prosa. Ao passo que se pode captar momentos específicos na prosa e os ilustrar, o interessante é que, na poesia, imagem sejam tão subjetivas quanto os poemas em si. Portanto, há uma liberdade maior em sua interpretação.

Conte um pouco sobre como ficou após ter recebido o convite para ilustrar o livro.
MS: Primeiro, achei que fosse uma brincadeira da autora e recusei o convite. Depois, aceitei, assustado com a responsabilidade, mas muito honrado. Hoje, faria tudo novamente.
Marcel Jundi Sugai, óleo sobre tela, 2013

Qual a sua ilustração preferida nessa obra? Por quê?
MS: Para criar as ilustrações em Essência, eu tentei buscar a minha própria essência me lembrando de velhos livros ilustrados que eu tinha quando era criança. Cada ilustração contém memórias e referências do meu próprio passado, mas que se conectam com a poesia de Mary Prieto. Gosto de todas, em especial da ilustração de Tumulto, pois sinto que consegui resgatar a minha curiosa admiração por sacadas e mescla-la com traços despretensiosamente infantis, que me levam de volta para os meus antigos livros de contos.

Há momentos ou coisas específicas que te ajudam a ficar inspirado? Como funciona seu processo criativo, geralmente?
MS:Tudo o que me transporta de volta para casa e para São Paulo me dá inspirações; cheiro de café e pão, música, dia de sol, etc. Meu processo criativo é simples: se eu estiver criando sobre algo, eu analiso o objeto cautelosamente e, em seguida, deixo a minha mão e um lápis fazerem um "chuva de ideias" no papel, sem planejar e sem hesitar. Eu repito o processo duas ou três vezes e então seleciono o que gostei e o que não. No final, acabo com poucas ideias e as aperfeiçôo até chegar em seus resultados finais. Depois é só escolher o produto final que mais representa aquilo que foi ilustrado.

Quais suas referências artísticas, entre pintores, ilustradores, escultores, etc.?
MS: Tenho seguido os trabalhos de artistas como Alice Vegrova, Kirsty Elson, Marina Abramovic, Kia Fia e principalmente de Alexander Jansson. Enquanto minhas primeiras referências de ilustração e pintura foram de Antoine de Saint-Exupéry, Maurício de Souza, Miró, Tarsila do Amaral, et al.

Ilustração em Aquarela para "Essência" 
Qual o principal desafio em transpor uma ideia para imagem, de maneira a acrescentar a mensagem, e não torna-la desnecessária?
MS: O desafio é falar a língua dos desenhos: usar símbolos que conversem com receptores diferentes, carregando ideias similares e sem cair no clichê.

Quais suas metas e/ou planos hoje, e como imagina estar daqui a um ano?
MS: Pretendo me pôs graduar em Arquitetura em Brighton, Inglaterra e seguir no campo das artes.

Se pudesse escolher qualquer livro dentre os seus favoritos para ilustrar, qual seria?
MS: A Ilíada

O fato de sua família ser composta de artistas gera muitas cobranças, ou, justamente por isso, torna as coisas mais simples?
MS: Nunca houve pressão para que eu os seguisse no meio artístico, mas fui incentivado, desde criança, a exercer minha criatividade.

Complete a frase: O mundo precisa de arte porque...
MS: ... a arte diz à alma de quem vê, o quê, quem apenas escuta, não quer saber.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Bem vindos de volta!


Oi gente!! 

É com muito carinho e satisfação que apresento a vocês o Considerando Inquietudes 2.0! Agora o blog está integrado a um site/portfólio que, além da "carinha mais bonita", permite que eu me apresente de maneira mais "completa", por assim dizer. Espero que gostem! 

Quanto a escrita: aos que já conheciam esse meu espaço aqui na web, explico: a primeira versão desse blog (elaborada em 2010), cumpria o propósito de uma experiência inicial apenas. Aprender a lidar com o público, compartilhar opiniões e argumentos, são fundamentais para o crescimento pessoal e profissional de quem, como eu, se aventura a viver das palavras.

Hoje, já num momento mais amadurecido de ideias, e até com um primeiro livro que será lançado em breve, o intuito é outro, quero poder ousar ir mais longe: desenvolver dia a dia o olhar crítico e inconformado que nos ajuda a pensar e mudar, pensar construindo, até que pensar e agir seja uma coisa só.  É um verdadeiro fazer filosófico...
Que não se perca, porém, o olhar carinhoso e poético que tanto precisamos para construir coisas boas.

Que a arte seja sempre, nas suas mais diversas manifestações, inspiração, caminho, e horizonte. E que a reflexão guie com sabedoria nosso ser inquieto e curioso.

Aos que já conheciam essa minha morada e liberdade em cada palavra, digo muito, muito feliz: bem vindos de volta, e até breve, e sigam-me os bons!

Com carinho,
MP

Links: - blog: http://considerandoinquietudes.blogspot.com.br/
- site:  http://maryprieto.wix.com/blog